Ao amarrar seu jumento na cerca do curral, o agricultor passava, quase que imediatamente, para o local da votação. Era chegada a hora, no longínquo ano de 1900, da eleição para governador do Ceará. Em troca de calçados, vestimentas, moradia ou até de alimentação, a solução era mesmo votar no nome ordenado pelo coronel, dono da fazenda, que não dava trégua e colocava seus capangas para vigiar todo o processo. E não bastasse a submissão dos eleitores, as eleições eram fraudadas, afinal, valia “tudo” para manter a oligarquia no poder.
Foi assim quando o comendador Antônio Pinto Nogueira Accioly, ex-senador no tempo do Império, passou a dar as cartas, por 16 anos, no Ceará. Com características de nepotismo (emprego de parentes nos cargos públicos), corrupção e autoritarismo, o longo mandato acciolino iniciou a política de oligarquias no Estado, que mal sabia, à época, vivenciaria ainda outros processos semelhantes a esse.
Hoje, 100 anos depois da queda da oligarquia de Nogueira Accioly, o que se pode perceber é que as práticas políticas no Ceará dão sinais de que não romperam com o clientelismo e com a concentração de poder, remanescentes da República Velha
O antigo modo de fazer a política do “vale tudo” para não perder o comando do poder insiste em fazer parte da vida política cearense. Nos mesmos moldes, até hoje, têm-se notícias de in-
terferência direta de governantes nas eleições, bem como de empregos de recursos públicos em campanhas políticas milionárias.
terferência direta de governantes nas eleições, bem como de empregos de recursos públicos em campanhas políticas milionárias.